quinta-feira, 22 de setembro de 2011

odisseia

Sua boca parece um coador de café ao inverso: até as partículas e películas e palavras suaves saem rudes, brutas, matéria-prima para mais frases de um peso assustador. Deve ser por medo do vento não conseguir carregá-las que este delegado fala tão alto.

Se eu tivesse dito a alguém, seria tráfico. Foi só porte ilegal de sonhos.

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Quatro horas antes, eu tava no centro da cidade procurando por alguma coisa que a gente compra para mostrar pras amigas que tem, e elas, até as cegas, dizerem: “ó, que lindo, mas me avisa se meu lápis borrar?”

Até aí, tudo bem com a lei. Mais uma cidadã padrão da pacata sociedade moda moderna. O senso comum é tão poderoso que primeiro existiu, e depois o inventaram, só porque os homens não aceitam que algo não tenha uma rubrica.

O problema foi que o sol tava lindo, a lua das 17 horas junto, cabelo cor-de-avelã, o sorriso rosado do caixa de supermercado (guichê 12), então eu comecei a bolar sonhos coloridos com caos, clarices, camões e carmim. Com rádio-novela no taj mahal e audrey hepburn ou um programa de domingo no grand canyon. Me via lá em mim. Eram planos tão gigantes e fluoresciam em plena luz do dia… Não demorou para Os Caras perceberam.

Há tempos, todos têm de regulamentar imediatamente suas aspirações, mantê-las cadastradas e sob minucioso controle. Sonhos não podem fluorescer vermelho com verde por aí. Sério.

Tentei esconder estes sonhos. No meu peito, não cabia (nem cabe) mais nada. Pensei em colocá-los no Ipod, porém nem na discografia inteira de todas essas bandas britânicas eles caberiam. Carreguei-os no colo a tarde inteira, fui pega, 3 casas de multa no banco.

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Não, não tenho do que lamentar. Exceto que tou com vontade de tomar café e tenho direito somente a uma descafeínada ligação.


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